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sexta-feira, 15 de abril de 2016

AmorariResenha - Trilogia Millenium

Alvaro ~  

Essa resenha contém spoilers. Mas, nos meus posts, a política de spoilers é como a política de House of Cards, inclusive com o pronunciamento do Doug - pra quem não viu, veja aqui -, então, digamos que terá spoilers da trilogia – ignorei o quarto livro por ter uma escrita diferente e não ter a mesma premissa dos seus anteriores, e ter sido escrito por uma outra pessoa (David Lagercrantz) – mas é aquele spoiler que aguça a curiosidade. Dito isso e deixando você, leitor, avisado, hora de conhecer um pouco a Suécia. 

A trilogia conta a história de dois personagens: Mikael Blomkvist, que é um sócio da revista (Millenium) repórter, nas horas vagas. A revista é especializada em crimes financeiros (motivo pelo qual o personagem principal é conhecido como Super-Blomkvist) e a melhor personagem feminina da literatura atual, Lisbeth Salander, que, a primeira vista, parece meio maluca, mas possui um dom relacionado a tecnologia, uma das maiores hackers do mundo, além de uma memória eidética invejável. Por enquanto é só. Quero dedicar um tópico especial pra Lisbeth (e porque eu gosto tanto dela). Provavelmente entre o primeiro e segundo livro. Então, parafraseando um dos maiores serial-killer da história: vamos por partes (e bem devagar, eu diria). 





OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES  - 2005

O livro começa com o julgamento por calúnia e difamação por parte de Blomkvist através de uma matéria jornalística que acusou um multi-milionário de sonegar impostos. O nosso herói perde e é condenado a 3 meses de prisão e o pagamento de 120.000 coroas (dinheiro local. Com a conversão para nosso real, dá a bagatela de R$ 51.204,00). Com essa sentença, a revista corre o risco de fechar pela crise de confiança instaurada. Em meio ao caos na sua vida, Mikael é convidado para a ilha de Hedestad, onde vive a família Vanger. Essa família é muito unida, e também muito ouriçada dona de um império em ruínas, que vive um mistério de um desaparecimento. A neta do patriarca desapareceu e, a cada aniversário desse desaparecimento, ele recebe uma flor diferente. Então, pelo preço de revelar as trapaças do multi-milionário que foi acusado por Mikael, ele topa. 

O livro, basicamente é um show de entrevistas e personagens malucos, com sintomas malucos e atitudes malucas, mostrando como a psiquê humana pode atingir patamares bizarros – detalhar isso seria um belo exemplo de spoiler babaca  e o que, aparentemente era um caso de desaparecimento, torna-se...bem, o nome do livro. 

O livro segue por veredas que prendem o leitor, sendo, sem sacanagem, o primeiro livro que me fez deixar um marca página na primeira folha para ver a árvore genealógica da família Vanger. Eu, particularmente, não conseguia parar de ler - me tornei um ser antissocial na faculdade. E possui um desfecho que, como os maiores ilusionistas fazem, está ali, mas o leitor não consegue perceber até o desfecho atingir o leitor com força (abraço, Dan Brown) . É um clássico que, mesmo lançado tardiamente, foi responsável pela trilogia de filmes suecos e, por enquanto, um filme americano (Daniel Craig - é, o 007, como "Mikael Blomkvist" - escolha ruim) a respeito dessa obra maravilhosa.

Um dos pontos cativantes e viciantes do livro é a Lisbeth. Ela é uma coadjuvante nesse livro. Nem por isso, menos interessante. Inclusive, ela, de certa maneira, é a válvula de escape para os becos sem saída da investigação de Blomkvist. Acho que, agora é a hora de falar sobre esse achado feminino na literatura. 

Uma pausa para introduzir Lisbeth Salander.

Imagine você aos 12 anos, crescendo num ambiente familiar conturbado. Seu pai e sua mãe brigam a toda hora, tanto pela incompetência do seu pai em ter uma família, quanto pelos inúmeros casos que a sua mãe descobre que o seu pai anda tendo. E todo dia que seu pai chega em casa, bêbado, resolve que a porrada vai comer solta. Você e sua irmã mais nova vêem seu pai agredindo a sua mãe como se ele fosse um sádico. Qual a sua atitude?
a) chama as autoridades
b) intervém e tenta tirar sua mãe de lá
c) pensa em um plano para sacanear o velho de uma maneira épica.

Eu sei que eu comecei falando da Lisbeth de uma maneira cruel. Quer dizer, entender alguém que se fecha em uma casca de solidão e tem seus próprios fantasmas para lidar é difícil para quem não tem nenhum fantasma, mas o que torna essa personagem tão especial, não é os traumas de infância, e o que essa menina sofreu em hospitais psiquiátricos, mas sim, a inteligência e a forma de raciocínio lógico - e, de certa maneira, cruel - com que ela resolve as situações. (A situação acima é descrita durante todos os três livros, de modo que é possível entender o ponto de vista de quase todos os envolvidos nessa história toda). 

Lisbeth não sabe bem o que ela é. Aparentemente, é uma mulher decida, mas num corpo sem casca, ou com várias cascas que se adaptam e se moldam conforme o ambiente que ela se encontra. No livro, o apelido hacker dela é "Wasp", e de fato, ela lembra mesmo uma vespa. 

A história da Lisbeth é discorrida nos outros dois livros - "A menina que brincava com fogo" e "A rainha do Castelo de Ar" -, dando a entender, que o grande problema das pessoas do entorno da Lisbeth consideram que ela é uma deficiente mental, que beira a loucura. Seja pelas suas vestes, ou pelo seu jeito de olhar a todos com ar superior e não olhar ninguém, mas, quando percebem a força por trás do corpo franzino e da cara de maluca, geralmente é tarde demais. 

Enfim. Quero não tentar dar spoilers babacas a respeito da Lisbeth, mas acho que não consigo resumir ela de melhor maneira que "uma pessoa que faz aquilo que nós, por algumas amarras sociais, não fazemos com quem merece". Dito isso sobre a Lisbeth (e gastando quase uma folha pra isso), bora continuar com o livro 2.



A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO - 2006

O livro começa após as pendências do livro anterior serem resolvidas. Lisbeth está em uma ilha deserta, curtindo umas férias merecidas e Mikael, com uma parceria junto com Dag e Mia Svensson trabalham em um artigo referente a cadeira de prostituição de imigrantes do leste europeu. O trabalho é referente a um estudo de doutorado de Mia. Nesse estudo, eles começam a perceber a relação entre os desaparecimentos e o nome Zala. 

Quando as férias da Lisbeth acabam, ela, bisbilhotando o computador de Mikael, descobre esse estudo e o nome "Zala", faz com que um trauma de infância começe a assombrá-la novamente. Por motivos que eu não posso contar, pouco depois do retorno de Lisbeth a gelada Suécia, o casal é assassinado e a última pessoa vista a entrar na casa foi Lisbeth Salander.

Sendo a principal suspeita do assassinato, Lisbeth, foragida, procura encontrar pistas para achar Zala e resolver a principal pendência da sua vida. Do outro lado, Mikael procura provas que indiquem que sua parceira investigativa não assassinou seus dois parceiros de trabalho.

Outra vez, a história gira em torno de um quebra-cabeça matemático que ninguém descobriu a solução até hoje. (a² = b² + c² - essa expressão é verdadeira, matematicamente falando. A tendência é que os pontos envolvidos nela formem um triângulo, agora, quais os números que você incluindo na equação ao lado transformam essa expressão aqui "a³ = b³ + c³" em verdadeira?), e através dessa equação, Lisbeth visita seu passado sombrio e Mikael consegue juntar pedaços e peças do quebra-cabeça complexo que é aquela garota. 

A RAINHA DO CASTELO DE AR - 2007.

Ele começa como o anterior termina. Lisbeth em uma cama de hospital, presa, em estado grave e, no quarto ao lado, o seu algoz, com um machado enterrado na cabeça (spoiler necessário). 

Mikael continua a investigar o caso que causou a morte dos seus colaboradores e acaba se deparando com a chave para descobrir o passado sombrio da Lisbeth, chegando a encontrar indícios de alta espionagem que fizeram com que Lisbeth passasse 13 anos sofrendo por algo que não era culpa dela. 

Já Lisbeth, procura se defender daqueles que querem que ela morra por saber demais e lembrar demais. E ainda, procura se defender da acusação de assassinato do segundo livro.

Para não estragar a experiência como um todo, preciso falar que, se um dia hollywood resolver fazer direito esse terceiro filme, a cena do julgamento - por mais que seja a portas fechadas, pode se tornar uma das maiores cenas de julgamento já feitas no cinema americano (a título de curiosidade, para esse quem vos escreve, a melhor cena de julgamento ocorre entre Jack Nicholson e Tom Cruise, no filme "Código de Honra" - ainda tem Kevin Bacon e Demi Moore para engrossar os nomes de peso - e ela está aqui - sério, vale a pena perder 1 minuto e 30 segundos para ver essa cena).

CURIOSIDADES:

- A atual trilogia Millenium tinha como meta uma decalogia - 10 livros - mas que foi interrompida pela morte do escritor/jornalista Stieg Larsson;
- Houve um imbróglio judicial depois da morte do escritor, já que o relacionamento com a mulher que ele vivia não era de casório, mas como se fosse uma união estável. Acontece que na Suécia, não existe União estável. Ou era casado, ou não. E se não era casado, os bens ficaram para a família do falecido. Sem problemas, mas ninguém teve acesso ao notebook do falecido, que já tinha escrito a maior parte (2/3) de um outro romance que continuaria a saga (A vingança de Deus), portanto, a história não pode ser publicada. Esse imbróglio judicial demorou de cinco a sete anos, quando, por fim, foi lançado, mais como uma homenagem (esse termo é pura opinião) do David Lagercrantz, chamado "A Garota na Teia de Aranha". Link da notícia de 2013 no Ópera Mundi
- Os três livros saíram em filmes, sendo que os personagens principais (Mikael, Lisbeth, Erika, Nils Bjurman) foram feitos pelos mesmos atores. Como na europa e no próprio circuito americano fizeram um relativo sucesso, o primeiro livro foi refilmado pelo David Fischer. Trailers abaixo:

The girl with Dragon Tatoo (sueco):

The girl who played with fire (sueco):




The girl who kicked the hornet's nest (sueco):



Conclusão:

Embora por política de spoiler - e até para não estragar as experiências não pude falar muito do segundo e terceiro livros. Pra mim, o melhor livro é o segundo - embora o terceiro tenha momentos de perder o fôlego e o primeiro é um thriller excelente. Caso você que lê essa humilde resenha não queira ler os livros, os filmes estão disponíveis no youtube (procurando o trailer eu achei os filmes), e os filmes estão disponíveis na Netflix. Então, aproveita enquanto as franquias de dados não acontecem e, caso esteja com o fim de semana sem fazer nada, garanto que são boas horas de diversão com filmes ao estilo pipoca e livros com um conteúdo genial - além de histórias e personagens geniais.

E você? Tem alguma experiência legal com a trilogia? Já tinha ouvido falar? Comenta aí embaixo e curte lá a nossa página no facebook. Entramos em uma fase de postagens todo dia, para todos os gostos, então, pra não perder nada, dá aquela curtida esperta e fortalece o trabalho. Link aqui

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